sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Igreja da Misericórdia

A Igreja da Misericórdia é o ex-libis de Torres Novas, sendo arquitectónica e artisticamente o elemento mais rico da cidade.
Fundada em 1534 pelos "homens bons" da vila, a irmandade da Misericórdia de Torres Novas só viria a construir o seu templo na segunda metade do século XVI. Em 1566 a igreja não estava ainda concluída, pois a primeira eleição da mesa da Misericórdia, feita nesse ano, foi realizada na igreja de Santa Maria. As obras iriam arrastar-se pelos primeiros anos do século XVII, embora a estrutura do templo estivesse concluída antes de 1592. 
Em 1618 era executado o retábulo de pedra da capela-mor, e em 1640, a Mesa pagava as tábuas dos altares colaterais, atribuídas ao pintor Miguel Figueira. No ano de 1644 era executado o entablamento da capela-mor e em 1668 o benfeitor Manuel Falardo da Maia patrocinava a edificação da tribuna em talha dourada. O revestimento azulejar do interior da igreja foi realizado em 1674, e quatro anos depois eram pintados os caixotões da abóbada da nave. O coro-alto só seria erigido em 1684. 
O longo tempo de edificação da Misericórdia de Torres Novas originou um templo eclético, que conjuga elementos de diversas épocas, nomeadamente um portal manuelino, de acesso à Casa do Despacho, que deverá ter sido retirado da estrutura da ermida dos Fiéis de Deus. A fachada principal do templo apresenta um modelo maneirista, de linhas depuradas, com portal de moldura rectangular inserido em estrutura retabular, ao qual se acede por escadaria. A estrutura do portal divide-se em três registos, à semelhança dos retábulos pétreos. A porta é ladeada por duplas colunas compósitas, assentes em plintos decorados com cartelas, e encimadas por cornija decorada com relevos de grutescos e um esquema arquitectónico tripartido, definido por pilastras decoradas. O conjunto é rematado por um nicho em concha, decorado por uma Visitação e rematado por frontão triangular. O segundo registo da fachada possui três janelas de peito, que iluminam lateralmente a nave.
A nave possui seis vãos, com as paredes totalmente revestidas de azulejos de tapete, e tecto de caixotões pintados. Ao fundo foi edificado o coro-alto assente sobre pilastras, com balaustrada de madeira. Do lado da Epístola foi colocado o cadeiral dos mesários da irmandade, destacando-se o lugar do provedor, encimado por brasão. O presbitério é avançado, com frontal revestido a azulejos de padrão. A cabeceira é decorada por estrutura arquitectónica de cantaria, com três arcadas de arco pleno separadas por pilastras dóricas e rematada por frontão triangular. As capelas colaterais, pouco profundas, possuem retábulos de talha dourada, a do Evangelho dedicada ao Senhor do Bom Despacho, a da Epístola dedicada ao Senhor dos Passos. O retábulo-mor, também de talha dourada, possui sacrário em forma de tabernáculo e imagem da Visitação. Sobre a sacristia foi edificada a Casa do Despacho, com tribuna para a nave, cerrada por portas envidraçadas. 
Portal manuelino
As telas maneiristas que compunham os retábulos originais foram preservadas, destacando-se a Visitação do retábulo-mor; as representações de Cristo curando o paralítico e a Ressurreição de Lázaro foram colocadas nas paredes laterais da nave, enquadradas por molduras barrocas. 
A igreja possui ainda, no vão lateral do presbitério, um presépio da escola de Machado de Castro, que pertencera à Quinta de São Gião e foi doado à Misericórdia de Torres Novas por João Caetano Pereira, seu segundo proprietário.
Fonte: Catarina Oliveira, IPAAR (2004)

Ler mais:
http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/74818
https://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_da_Misericórdia_de_Torres_Novas

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